sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ensaio Literário - Parte 2


ATENÇÃO! NÃO COMECE A LER ESSE POST SEM ANTES LER A SUA PRIMEIRA PARTE:


Bem pessoal, na parte anterior dei uma ensaiada pelo mundo literário com a primeira parte do meu conto, focando um pouco mais na construção de um diálogo, mesmo que contando com alguns clichês. Na parte de hoje, vou dar outra ensaiada, agora na descrição de ações e pensamentos. Os clichês continuam, mas espero que gostem, do ensaio, e da moral e lição da história. See ya!

(...)

Assustada com o barulho causado por Mariana, sua mãe deixou cair a panela com feijão quente sobre seus pés, derramando todo o conteúdo e queimando seus dedos. Ela sentiu aquilo fitando com o olhar vazio a porta do quarto, que podia ser vista da cozinha da pequena casa, com seus pôsteres de bandas de rock emo, e o aviso em inglês keep out. Os dedos dos pés doíam com o calor do caldo fervente, mas aquela dor não era nada, se comparada a que tinha no coração. Sentia, naquele momento, que perdia a última das pessoas que mais amara.

A mulher foi acordada de seus pensamentos pelo barulho da porta da sala, seguida pelo som de um pesado par de botas sujas que se encaminhavam apressadas até a cozinha. Carlos, seu novo marido, parou no portal que ligava a cozinha a sala, e carrancudo, olhou a cena. Criou no rosto uma expressão de cólera e começou:
- Que porra é essa, Maria!? Eu chego cansado do trabalho e você tá aí chorando por que derramou a comida? Trata de limpar essa merda e fazer tudo de novo, por que to com fome. Porra! - E num movimento grosseiro foi abrir a porta da geladeira caçar alguma coisa pra comer.

Até ali, Maria não tinha reparado que estava chorando. Sem mudar a expressão do rosto, fez tudo o que o marido mandou, sempre atenta à porta do quarto.
Passou a noite inquieta, esperando a filha sair do quarto. Nada. Antes da meia noite, tentou abrir aquela porta mais uma vez, pra pedir perdão ou talvez resolver aquela situação, mas estava trancada. Aceitou enfim sua derrota e se recolheu ao cômodo do casal, para fazer o que considerava seus serviços conjugais.

O sono de Maria foi inconstante. Tivera pesadelos horríveis em que sua filha fugia, e ela tinha que sair desesperada de carro pela cidade à procura da garota. No sonho, todas as placas de trânsito diziam keep out. Em um semáforo, acometida pela fúria da incerteza do destino de Mariana, desceu do carro, e com força sobrenatural, arrancou uma dessas placas. Bateu em uma com força no chão e escutou um bipe. Bateu de novo. Outro bipe. Bateu três vezes. Bipe, bipe, bipe. Era o despertador. Maria acordou assustada e olhou as horas no rádio-relógio. Seis horas. Mariana tem que ir pra escola.

A mãe foi até o quarto da garota e, aliviada, encontrou a porta aberta. Ela me entendeu. Ligou a luz do quarto e viu a filha deitada.
- Acorda preguicinha... - Disse, musicalmente.
Tirou suavemente o edredon de cima da garota e se assutou, num pulo, com o que viu. Mariana com os olhos vidrados e a boca espumando. Horrorizada, Maria quis acordar sua filha daquele estado, mas seu corpo estava imóvel. Imóvel demais. Desesperada, a mãe começou a olhar ao redor em busca de uma explicação, e encontrou em cima do criado-mudo uns papéis com uma seringa contendo um líquido estranho como peso. Havia em cima dos papéis a foto de um rapaz despojado, aparentando 25 anos, ao lado de uma moto vermelha com um sorriso tímido. Embaixo da foto, havia um papel correspondência de um laboratório de análises clínicas. Maria leu seu conteúdo:

LABORATÓRIO ALFRED.

Teste de HIV

PACIENTE ------------- Mariana Gonçalves Macedo
AMOSTRA DE SANGUE ------------------ Reagente

Por último em cima do criado mudo, repousava uma folha de caderno. Maria reconheceu no papel a letra irregular da fiha. E já às lágrimas, deu uma olhada no rosto inerte de Mariana, antes de ler:

Eu disse que vocês nunca me entenderiam.
Os únicos, os únicos que me entenderam nessa vida,
foram o Daniel e porções daquele líquido que está dentro da seringa.
Eu era virgem, mãe.
E o Daniel morreu faz 3 dias.
Da mesma maneira que eu.

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Diga não às drogas.

4 comentários:

  1. Parabéns, David! Ótimo conto. Envolvente, dramático e acima de tudo de utilidade pública.
    Gostei muito.

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  2. Eitah porra! Acho que cai na sua intenção, e tava pensando que era outra coisa... final surpreendente e muito bom.
    Você está aprovado, pode escrever mais contos.

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