sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ensaio Literário - Parte 1










Semana passada, em minha falta de inspiração, fiz um post bem parecido com os que o Bob costuma postar por aqui. Na falta de inspiração de hoje, começo um post que o Peein costuma(va) fazer: o conto.
Espero que gostem.


A mãe preparava o jantar enquanto a filha lia uma revista teen. A mãe disse:
- Minha filha, você tem que tomar cuidado com quem você anda.
- Aff mãe! Eu sei - respondeu a filha.
A mãe do alto de seus 45 anos de idade, engrossava o caldo do feijão, enquanto lançava um olhar de ternura por cima do ombro, em direção à filha. Esta, não tirava os olhos da revista.
- Você sabe como são esses garotos de hoje em dia - continuou a mãe
- Qual é, mãe! Você tá parecendo meu pai...
- Mas ele também sabe no que é que esses garotos estão interessados - insistiu
- Vocês nem conhecem o Daniel! - berrou a garota de 17 anos, fechando a revista num baque e jogando-a, impaciente, sobre a mesa.


A mãe abaixou o fogo no fogão, tirou o avental e o colocou sobre a pia, revelando um puído vestido de estampas florais, e repousou a concha que tinha na mão ao lado do avental. Virou-se, colocou as mãos sobre a cintura, e encarou duramente os olhos da menina:
- Acha que eu não sei o que vocês andam fazendo? - perguntou.
A menina ficou paralizada, e olhou perplexa pra mãe. Passou a mão sobre a franja roxa do cabelo curto, e desviou o olhar para o chão:
- Não, você não sabe.
Como é que ela pode saber? A gente sempre fazia escondido. Ela só pode estar blefando. Pensou a garota.


- Mariana... - começou a mãe.
- Já falei pra não me chamarem assim! - interrompeu
- Foi o nome que eu e teu pai te demos! - irritou-se - Não foram seus amigos que te batizaram.
- Blá blá blá... - ironizou a menina.
O olhar da mãe se suavizou e ela abriu um tímido sorriso:
- Minha filha, eu já tive sua idade...
E por um instante, Mariana reconheceu naquele olhar a antiga mãe que tinha, que era amiga, que a entendia, e que brincava com ela. Em seguida, esse mesmo olhar se perdeu pela janela, além da paisagem, nostálgico:
- Nessa época, o proibido parece tão atraente e fazer o errado é tão saboroso...
Mariana concordou com o olhar e o pensamento, fitando os rapazes sorridentes na capa da revista. O olhar de sua mãe foi mudando da tímida alegria para a tristeza, até voltar à dureza inicial:
- É por isso que vocês tem que parar. Eu tinha a sua idade quando engravidei da sua irmã.
Mariana tremeu ao escutar a última palavra.


- Mãe, você não tá entenden...
- Você tem é que seguir o exemplo da Marina! Apesar de tudo, ela sempre foi tão certa...
Pronto. Pensou Mariana.
A mãe voltou-se novamente ao fogão, desligando as chamas, e pegando a panela do feijão pra colocar à mesa. E continuou:
- Na sua idade, ela só queria saber de estudar. E está ai hoje: formada, casada, em um bom emprego... Ela é perfeita! Agora olha só pra você! Que cabelos e roupas são essas? E que companias são aquelas? Você não toma mais sol, e emagreceu muito ultimamente. Tá pesando o quê? 37, 38 quilos?
- Chega! - gritou a menina, já às lágrimas - você nunca vai entender!
Levantou-se da cadeira e saiu em disparada da cozinha. Ela odiava quando a mãe a comparava com a irmã perfeitinha. Marina, a menina concebida por acidente, mas que por trilhar um caminho certinho, se tornou o orgulho da família. Estava farta de escutar tudo aquilo de novo.
No meio do caminho até seu quarto, com as bochechas pretas por causa das lagrimas que borraram sua maquiagem carregada, ela abriu um sorriso demente e pensou: preciso fazer aquilo mais uma vez. Só mais uma vez.
Ela se cansou de tudo. E bateu a porta do quarto com força.


Continua na próxima sexta-feira. Aqui nessa mesma seção.
Até.



3 comentários:

  1. Lindo texto! A descrição psicológica da filha é o ponto alto do ensaio (na minha opinião). Mostrou muita sensibilidade.

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  2. Muito bom! Se os pais soubessem o mal que fazem a comparação entre irmãos, pensariam duas vezes antes de fazer. Belo diálago. Fico esperando a segunda parte.
    Parabéns!

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  3. Você dizia que não sabia escrever contos, mas era porque nunca tinha tentado. Adorei, me identifiquei, e espero anciosa pra ver o que Mariana vai aprontar...

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