quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Erros de lógicas (e seus amigos)




Erros de lógica



Muitos doentes sofrem por causa de “distorções cognitivas”. Os pensamentos estão vinculados às emoções e comportamentos e podem ser classificados como reflexivos e automáticos. Os reflexivos são mais lentos, profundos e implicam esforço mental. Os automáticos são mais rápidos e surgem espontaneamente, de acordo com cada situação. Por estarem associados a um raciocínio superficial, os pensamentos automáticoS, tem maior probabilidade de apresentar erros de lógica. Alguns exemplos de pensamentos automáticos disfuncionais:
HIPERGENERALIZAÇÃO – Se for verdade num caso, aplica-se a todos os casos. Mesmo que seja verdade no passado, será sempre assim. A pessoa vê um único evento negAtivo como um padrão de derrota que nunca vai terminar. “Eu Tenho um cancro, a minha vida nunca mais vai ser a mesma”; “Nunca mais vou ser feliz”.
MAGNIFICAÇÃO E MINIMIZAÇÃO – Características e experiências negAtivas são maximizadas enquanto as positivas são minimizadas. Super-valorizar ou desvalorizar a importância de um atributo pessoal, evento ou uma possibilidade futura. “Toda a gente está a lidar melhor com a doença do que eu, só acontece a mim”; “Esta tosse seca significa que estou morrer de caNcro”.
PENSAMENTO DICOTÓMICO OU POLARIZAÇÃO – Perceber as experiências pessoais em apenas duas categorias extremas e excludentes. Perceber as situações em termos absolutos. Branco ou preto. Oito ou oitenta. Tudo ou nada. “Se eu não conseguir ficar curado, não vale a pena fazer nada, mais vale morrer já; “Ninguém gosta de mim”.
ATENÇÃO SELETIVA – Um aspecto de uma situação complexa é foco da atenção, enquanto outros aspectos relevantes da situação são ignorados. “Vou-me sentir muito mal com os efeitos secundários do tratamento”; “Eu estou gorda, sou uma pessoa horríveL”.
CATASTROFIZAÇÃO – Acreditar que o que ocorreu ou que poderá acontecer será terrível, intOlerável ou insuportável. “Eu sei que este tratamento não irá funcionar”; “Eu não serei capaz de lidar outra Vez com a doEnça se o cancro voltar”.
INFERÊNCIA ARBITRÁRIA OU LEITURA MENTAL – Chegar a uma concluSão sem evidências adequadas. Pensar, sem evidências, os que os outros poderão estar a pensar, desconsiderando oUtras hipóteses também possíveis. “Eles vêem-me como se eu estiveSse a morrer”; “Ele está a desprezar-me porque percebeu que tomo medicamento para a depressão”.
ROTULAÇÃO – Avaliação global de uma pessoa ou situação através de estereótipos e desconsiderando as características específicas de cada caso. Colocar um rótulo global e rígido em alguém ou situação ao invés de avaliá-los como um todo. “Eu sou um idiotA”; “Não há solução, ele é um caso perdido”.
DECLARAÇÃO DE OBRIGATORIEDADE (PODER, DEVER E PRECISAR) – Interpretar eventos em termos de como as coisas deveriam ser, ao invés de focar como eles são. “ Eu tentei viver uma vida boa, eu não deveria ter tido cancro”; “Para ser feLiz, necessito da aceitação de todos”.
PERSONALIZAÇÃO – Assumir como responsável por alguma situação externa quando na verdade são outros os factores responsáveis. “Os meus amigos talvez não me vêem visitar-me porque eu tenho um cancro”; “ELe está distante, devo ter feito algo de errado”.
Além dessa matéria, achei esse lance legal:
O ciúme patológico (CP) pode ser definido como uma condição caracterizada por pensamentos, emoções e comportamentos inaceitáveis ou extremos, cujo tema dominante é a infidelidade do parceiro, podendo ocasionar sofrimento para o paciente e para o parceiro. Apresenta-se de forma heterogênea, tais como idéias obsessivas, prevalentes ou delirantes. Reconhece-se que o CP pode constituir um sintoma, presente em diferentes entidades nosológicas, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno delirante. Portanto, uma vez detectado, deve-se identificar o diagnóstico de base. Como o tema pode apresentar uma forte conotação paranóide, a aproximação mais comum seria com transtornos psicóticos, em virtude de alguns pacientes apresentarem boa resposta terapêutica a neurolépticos e apresentarem forte convicção, próxima à delirante, de que estão sendo traídos3. No entanto, apesar de alguns autores ressaltarem a associação desse sintoma com o TOC, são poucos os artigos publicados sobre o tema. Neste caso, a terapêutica mais adequada seriam os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) associados à terapia cognitivo-comportamental (TCC). Em casos refratários, a associação com doses baixas de antipsicóticos por curto período de tempo poderia ser uma opção.
Recentemente, atendemos um homem com 23 anos, acompanhado por um prazo de dois anos, pelo segundo autor desta carta (reavaliado pelos demais autores), no Instituto Raul Soares. Ele era estudante de graduação, que tinha um relacionamento estável com uma mulher há três anos. Há um ano iniciou com ideações relacionadas ao ciúme, desenvolvendo sintomas de pânico quando chegava com a namorada em lugares freqüentados por jovens e percebia a presença de outros homens. O paciente não tinha comorbidades. Acreditava que a namorada era fiel e que suas idéias eram completamente infundadas. Perante os critérios classificatórios do DSM-IV, seu quadro era compatível com TOC. No entanto, freqüentemente aparecia na casa dela durante a madrugada para se certificar de que ela não o estava traindo. Após esses episódios, passava de dois a três dias com sintomas depressivos leves. O seu comportamento e suas idéias ruminativas relacionadas à infidelidade começaram a lhe causar sofrimento e prejuízo nas atividades cotidianas. Optou-se, então, por associar risperidona 0,5mg/dia. O paciente evoluiu com melhora significativa dos sintomas, passando a confiar na namorada, mesmo quando saía com amigos. Os pensamentos de infidelidade passaram a ser raros e, quando presentes, não mais provocavam desconforto significativo. O paciente foi acompanhado em um seguimento de mais um ano e meio após a introdução da risperidona, totalizando dois anos, até o presente momento.
(Ciúme patológico e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)


Um comentário:

  1. Sobre erros de lógica.
    sofro de:
    Hipergeneralização; magnificação; polarização; atenção seletiva; catastrofização; leitura mental; rotulação; declaração de obrigatoriedade e personalização. Só estes. De resto, mais nenhum.

    Sobre patologias:
    seu sonho profissional, @omtouche.
    Gostei do caso.

    ResponderExcluir